terça-feira, 15 de julho de 2014

Taj Mahal, o óbvio e a (in)capacidade de falar





- Amiga, tem pessoas que são assim, necessitam que a gente verbalize. Você pode trazer o Taj Mahal pra cá que não vai adiantar. Se você não falar 'eu gosto de você' e explicar o porque trouxe o Taj Mahal, não adiantará de nada.

- Mas amiga... Já não é óbvio trazer o Taj Mahal pra cá??? Precisa meeeeeesmo falar?

- Sim, precisa. Tem gente que precisa ouvir!

E foi assim que, mais uma vez, minhas discussões filosóficas com a Thaís me fizeram refletir por semanas. Fiquei imaginando a cena de uma pessoa construindo um Taj Mahal em algum lugar bucólico de São Paulo para demonstrar o tamanho do seu amor por alguém e, mesmo assim, a pessoa não entender nada. Pensei em quantas vezes montei templos que passaram despercebidos ou em quantos eu hesitei entrar justamente porque não os enxerguei.

Depois desse diálogo, percebi que criticar e não entender quem precisa ouvir "o óbvio" pode vir da nossa própria incapacidade de verbalizar algumas coisas. Normalmente, terceirizamos o problema e jogamos a responsabilidade em cima do outro. Às vezes, achamos também que não falar pode nos proteger (ou proteger o outro), mas deixar para depois a necessidade de expressar algo do agora só fará com que se adie um sofrimento ou se crie um desentendimento enorme depois.

Tem gente que consegue escrever, fazer mímica, enviar carinhas no Whatsapp, fazer analogias e usar sentidos figurados, mas não adianta: para certos assuntos, a língua parece que pesa 200 kg e não se fala o que precisa ser dito. "Vou deixar na entrelinha, ele vai entender" ou às vezes até "Não vou falar nada e ela vai entender o recado". Oi? Eu até acredito que alguns silêncios falam, mas isso é papo para outro post.

Quantas situações embaraçosas e dolorosas poderiam ser evitadas se a gente simplesmente falasse? Quando éramos bebê, esse talvez fosse o momento mais esperado: a primeira palavra! Depois como crianças curiosas passamos a tagarelar e indagar sempre "porque? porque? porque?". Adolescentes falam mais do que a velhinha do Yakult. Adultos só complicam as coisas mesmo... Falam quando não devem e se calam quando deveriam gritar.

Precisamos criar a coragem de alinhar as expectativas sobre tudo nessa vida. Cartas na mesa mesmo que o coração esteja na mão. Parece simples, mas não é... Enquanto isso a gente segue, acertando e errando, corrigindo, falando, calando, acertando e errando de novo. De uns tempos para cá, todas as vezes que eu me pego com a língua travada mas com a cabeça a mil por hora, me lembro do Taj Mahal e tento me expor. De pouquinho em pouquinho, de palavra em palavra. De tijolinho em tijolinho!

Um comentário:

  1. Tem um conceito junguiano chamado "sincronicidade": basicamente, quando a gente se investiga um pouco, começa a perceber várias situações e coisinhas da vida que parecem meio que conectadas entre elas, como se fossem "sinais" alertando pra alguma coisa dentro da nossa cabeça que tá pedindo cuidado. Então. Tô eu no Facebook, aí vejo o comentário da Thaís sobre seu post. Vim ler de curiosa e a coisa soou como uma BOMBA aqui dentro. Cacete, acredita que ONTEM MESMO eu tive um SENHOR problema justamente por isso?! Faz mais de 5 anos que sofro com essa porra de língua travada - muito boa pra abobrinhas, mas simplesmente INERTE na hora de falar o que importa, principalmente para as pessoas mais fundamentais. Fico adiando, fugindo do assunto, achando que é melhor não esbarrar pra não mexer no que tá quieto, intuindo que "está subentendido", "falar é prata, calar é ouro", dizia vovó. E já causei tanto estrago com esse bloqueio que já era pra ter aprendido. Mais non. Então leio sua frase, tão pequena e cheia de tudo, e me soa como uma Eureka!: "Cartas na mesa mesmo que o coração esteja na mão". O Taj Mahal é lindo, mas aposto que teria sido muito mais barato, rápido e eficaz o cara ter falado - ou talvez perguntado alguma coisa - pra mocinha. Ninguém lê pensamento, então bora articular um pouco. Quantas cabeças poderiam não ter rolado... Show, Amanda!

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