Tudo não terás.
Esse tem sido meu mantra já faz
um certo tempo para tudo na minha vida. Já tento viver essa filosofia sem
expressar especificamente essa frase, dita pela Cristina que trabalha aqui no
Aché comigo. Aliás, nossos cafés de descontração costumam render boas histórias
e boas risadas. Tudo não terás. Nunca. E é bom a gente ir se acostumando com
isso.
Desde que me conheço por gente,
eu quero sempre mais (e isso não tem nada a ver com a música do Ira, meu povo).
Quando eu era criança, ir ao Playcenter era “O” programa da vida, praticamente
uma viagem para a Disney. Os pais que conseguiam proporcionar isso para seus
filhos, se sentiam orgulhosos e com a sensação de dever cumprido: a criançada
ia ficar feliz por um mês seguido, sem reclamar. Será? Não a pequena Amanda,
que vez ou outra saía chorando porque após ter brincado em todos os brinquedos
(que a altura mínima permitia, lógico), não ganhou o algodão doce no final do
dia. Não achem que isso é culpa de muito mimo da minha mãe não, pelo contrário.
Naquela época, ela já me dizia de outra forma “tudo não terás” e muitas vezes
essa frase vinha em forma de um belo tapa no bumbum pra acabar com a graça e me
colocar no meu devido lugar.
Na idade adulta, tive um Diretor
muito exigente. Muito mesmo. Eu nunca poderia entrar na sala dele sem uma
resposta pensada para meus problemas. Eu sempre precisava fazer melhor e
diferente do que a média. Foi ele que fez com que a minha régua profissional
fosse sempre mais alta do que o normal... Eu era exigida como Coordenadora,
mesmo sendo Analista. E depois como Gerente, mesmo sendo Coordenadora. E
depois, finalmente Gerente, eu era cobrada pra me diferenciar, a entregar mais
do que o esperado sempre. Com isso, perdi algumas noites de sono, ganhei dores
de estômago e enxaqueca. Estava sempre me cobrando e isso não é uma reclamação
de forma alguma. Cresci muito, aprendi muito com tudo isso. Inclusive a
reforçar a teoria de que: “Chefe, tudo não terás”. Não dá pra ser tudo ao mesmo
tempo agora. Não dá!
Ultimamente, é nos meus relacionamentos
pessoais que tento aplicar essa máxima. Tento entender que não dá pra exigir dos
outros reações e atitudes que eu teria frente a determinadas situações. Talvez
ai esteja a chave para evitarmos frustrações e cobranças desnecessárias. É um
exercício diário e por vezes, doloroso porque exige de nós muita tolerância e
pensar mais do que falar e agir no impulso.
Exige conter a língua afiada e
serenidade para não surtar quando as coisas não saem da forma como esperamos.
Às vezes, fazemos as coisas esperando no fundo uma recompensa, mesmo que inconsciente,
da outra parte. “Aquele dia, em Novembro do ano passado, eu fiz isso e aquilo
por você e agora você não faz por mim”. Sim, não faz, porque as com certeza não
enxergaram que estariam em dívida com você ao aceitar sua ajuda.
Aplicar o “tudo não terás”
significa aceitar que não existe perfeição. Não existe pacote 100% completo.
Ninguém aqui está dizendo para aceitar qualquer marmita por falta de um belo
prato principal, mas sim entender que nem todo mundo gosta de couvert,
sobremesa e café. É entender o silêncio do outro e o desejo de se expressar somente
depois de um tempo, mesmo que você queira falar agora. É entender que o relógio
de vida de cada um gira de forma diferente e que o importante é encontrar um
que esteja no mesmo ritmo que o seu, mesmo que analógico enquanto você se
orgulha de ser digital. É aceitar as escolhas do outro, mesmo que diferente das
suas e entender que as pessoas precisam se complementar, somar e elas não precisam ser sempre espelhos dos nossos desejos.
Canso de ouvir de amigas e
conhecidas que fulano é ótimo, mas.... Ciclano é legal, mas... Beltrano é
incrível, mas... Mas o que? A gente tem sempre algo pra reclamar, né? Às vezes
ficamos comparando as pessoas e não conseguimos ser felizes nunca porque a pessoa perfeita só existe na nossa imaginação. Pensamos que pessoas podem ser
comparadas a colchas de retalhos e seguimos tentando costurar os pedaços que
achamos interessantes para formar o “patchwork ideal”. Aplicar o “tudo não
terás”, é entender que às vezes o que você precisa é mesmo de um edredom
novinho, sem marca nenhuma, prontinho pra ganhar forma e cheiro com você.
Sabendo que tudo não teremos, cabe
a nós então fazer boas escolhas. Cada um sabe, no fundo, do que pode abrir mão
e o que é indiscutível, sem negociação. Estamos a todos os momentos fazendo essas
escolhas, direta e indiretamente, em todos os âmbitos da nossa vida, e temos
que arcar com as consequências de cada uma delas. Elas geralmente incluem
renúncias e cada uma tem um preço a ser pago, inclusive quando escolhemos não
escolher nada. Se não conseguimos definir ao certo o que queremos o
desapontamento com as nossas escolhas feitas tende a ser maior.
Aprender a escolher o
suficientemente bom ao invés de brigar eternamente pela excelência pode ser uma
boa estratégia. Isso não é ser conformista, mas sim realista. Eu pelo menos já
aprendi, desde a libertação da “Capa da Mulher Maravilha”, que a perfeição é só
para os super-heróis de desenhos animados mesmo (aliás, obrigada Dani, meu namorado querido, que me relembra praticamente todos os dias que eu posso e mereço ser bem cuidada: isso tem sido um belo de um aprendizado, mas fica de tema para um próximo post).
No final das contas, não
interessam os resultados objetivos, mas sim os subjetivos: como vamos nos
sentir em relação às escolhas que fizermos. E eu pretendo dormir sempre
tranquila, repetindo diariamente o mantra à exaustão: “tudo não terás, tudo não
terás, tudo não terás... mas ainda assim, conseguirás ser feliz”.
Quando saírmos para tomar sorvete ou comer um waffle eu vou te dizer: TUDO NÃO TERÁS e vou comer metade de tudo seu :-)
ResponderExcluirMuito legal seu texto, Mandi... Boa reflexão de nossa vida...
Beijos
Nã nã ni nã não... Nesse caso, tudo eu terei sim senhor!!! :-P
ResponderExcluirExcelente texto...penso assim também, sobre as escolhas com as consequências...sim, porque essas sempre virão. O tempo pode ser cruel, mas a maturidade ajuda! 😉
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