Há uns 12 anos, meu namorado da época insistiu para irmos ao Ibirapuera andar de bike, geração saúde etc. e tal e eu pensei "porque não?". Tinha o ditado popular a meu favor. Tinha a minha paixão a meu favor. Não tinha como dar errado, mas deu. Bastaram uns 10 minutos de aventura para eu atropelar duas pessoas, voar da bike e, por sorte, não me machucar. Antes que você me pergunte, claro que aprendi quando era criança, mas depois perdi o costume e nunca mais andei.
Depois desse tragicômico dia, segui a última década da minha vida afirmando e tirando sarro “siiiiim, a gente esquece sim”. Ai eu contava essa minha história, todo mundo ria e nessas eu sempre encontrava um ou dois que acabavam confessando que também não sabiam andar. Pronto, problema resolvido. Será?
Depois de anos bloqueando meu cérebro, do nada decidi: vou aprender a andar de novo. O ditado não tinha como estar errado! Dessa vez, na falta de uma paixão, escalei minha melhor amiga e fomos para o Villa Lobos encarar a aventura. "Não tenho capacete. E se eu cair, bater a cabeça na guia e morrer?" Sim, eu pensei isso. Frequência a mil, mãos suando, cérebro tentando trabalhar contra. Encarei meus medos e o resultado foi uma hora de diversão na ciclo faixa, algumas curvas estranhas, mas nenhum tombo.
Essa experiência que me fez refletir muito sobre as coisas que um dia aprendemos e, por causa de um episódio qualquer, deixamos de fazer por acharmos que não somos mais capazes, por acharmos que não conseguimos, não merecemos ou por qualquer outro motivo que nos trava e nos faz parar.
Lembrei do dia em que uma amiga me disse: “acho que não sei mais como me apaixonar, como vou deixar que alguém entre de novo aqui dentro depois do que aquele idiota fez comigo”. Um mini infarto clássico, não? Desilusões amorosas às vezes deixam o coração peludo, desconfiado, avesso a qualquer sentimento e as pessoas seguem repetindo como um mantra do mal: “eles (as) são todos (as) iguais, eles (as) são todos (as) iguais”.
Aí um belo dia a desiludida lá do Nepal (sim, porque aqui em São Paulo ninguém age assim... #SQN) cruza com um cara bacana, que começa a tratar a moça bem (bem diferente do último boçal) e ela já começa a desconfiar. O cara liga e é um anormal porque hoje em dia “todo mundo usa Whatsapp, oras”. Ele faz uma gentileza e a dita cuja pensa “nossa, precisa disfarçar tanto que quer só me comer?”. O cara não tenta nada no primeiro encontro e ela já comenta com as amigas: “ah, sei lá, ele é meio estranho”. Oi?
Às vezes, os tombos anteriores não permitem nem por um segundo que o coitado do moço se aproxime um pouco mais porque ela não quer se machucar de novo (impossível), ou porque o fulano anterior é que era o homem da vida dela (e de muitas outras ao mesmo tempo às vezes, né?) e o outro não tem a mesma pegada, o mesmo olhar e a mesma malemolência (e, claro, a mesma intenção de fazê-la sofrer).
A realidade é que, apesar de todo mundo falar que uma desilusão amorosa passa, a gente sabe que (no fundo), nunca passa: a gente só tira o foco da atenção do passado e segue olhando para o futuro, aprende com o erro e aprende a esperar por algo diferente. E fazer isso já é uma grande vitória. Ser otimista e esperar sempre que o melhor está sim por vir é super saudável, mas saber identificar quando isso acontece, dar espaço e crédito para que uma nova história aconteça, é crucial pra barrar o ciclo vicioso do passado pegajoso.
Ninguém aqui é inocente e sabe que sim, sempre vão existir as pessoas que vão nos magoar propositalmente. Os FDPs estão aos montes por ai! Bingo, bem vindo à vida real! Sempre foi e sempre será assim, mas às vezes só não dá certo porque não tinha que dar e tudo bem, oras! Porque travar o Windows e dar pane no sistema? Um pouco de prudência, dinheiro no bolso e canja de galinha não faz mal a ninguém, mas quem se joga e vive, está sujeito a tropeçar. Ou a cair da bike... Então, proponho hoje um brinde aos tombos que a gente leva por ai, mas que eles nunca nos impeçam de começar sempre tudo de novo.
Tim tim!
Trilha sonora do post: Just Give Me a Reason (P!nk)