segunda-feira, 15 de junho de 2015

Meu namorado é um Ironman



“Meu namorado é um Ironman!”


Tenho pensado nessa frase desde às 17h36m15s do dia 31 de Maio de 2015.

Às vezes eu tenho a impressão de que algumas pessoas podem se perguntar: “Tá e ai? O que mudou na sua vida?” e a melhor resposta seria: nada, e ao mesmo tempo, tudo. Por isso, resolvi tentar explicar aqui em algumas linhas, talvez, o inexplicável.

A história do meu namoro se funde com o projeto do “meu” Ironman. Conheci o Dani em Julho de 2014, há cerca de 11 meses, no início do seu ano sabático, no início do sonho de se tornar um “Finisher”. Pensei: “Caramba... Que coragem desse moço. Acabou de largar o emprego, acabou de terminar um namoro e está prestes a arrumar uma nova encrenca, ops, nova namorada”. Nunca falei isso para ele, mas talvez se eu estivesse no seu lugar, não teria embarcado numa nova aventura sentimental a aquela altura do campeonato. Hoje, por motivos óbvios, fico muito feliz dele não ter pensado nessa forma. Certa vez, ele me perguntou o porque eu não fugi quando ele disse que não trabalhava, que era um “vagabundo” como ele delicadamente se intitula. Se eu não tinha medo dele ser um encostado que abusaria do meu humilde dinheirinho, já que ficaria um ano sem receber salário. Quando soube que ele tinha decidido se dedicar um ano para ir em busca de um sonho, um objetivo, pensei exatamente o oposto. Pensei que ele era muito corajoso e imaginei ser uma pessoa extremamente planejada, determinada, organizada e dedicada, características essas que pude comprovar e somar a tantas outras lindas que conheci ao logo do tempo e que fizeram com que eu rapidamente me apaixonasse por ele.


Eu sempre entendi a magnitude das distâncias de um Ironman. Por praticar esportes há algum tempo e estar em contato com o mundo do triathlon há quase 2 anos (mesmo que só espiando, ainda...) eu já sabia que nadar 3,8km, pedalar 180km e depois correr 42,2km (sim, uma maratona depois disso tudo) não era uma tarefa nada fácil. E aqui vale desatacar que é um na sequência do outro. Sim, no mesmo dia, como alguns me perguntam... Mais precisamente, no limite de 17h para cruzar a linha de chegada.  O que eu não podia imaginar é o que eu descobriria por trás da teoria.

Eu descobri que uma prova de Ironman começa meses antes da largada. Começa com a preparação do corpo e da mente do atleta para que ele consiga chegar até o grande dia da prova. E eu posso dizer isso com toda a certeza do mundo: esse caminho não é nada fácil para o atleta e muito menos para quem o acompanha de perto e convive com ele.

Os treinos aconteceram praticamente todos os dias (de segunda a segunda) e muito, muito cedo. Nesse último ano, o despertador tocou muitas vezes muitas horas antes do meu programado, mas eu nunca o deixei sair para um treino sem um beijo, mesmo que sonolento. Da mesma forma como ele nunca saiu sem me levar um copo de água ou um pouquinho de suco antes de ir colocar o corpo pra trabalhar.

Eu acompanhei o Dani em muitas provas e em todas eu me diverti e me apaixonei ainda mais. Peguei chuva, vento, sol, frio, mar, rio... E lá estava eu com o celular na mão para fotografar cada momento. De todas as provas que ele participou desde que nos conhecemos, só não estive na Asics 21k no começo de Agosto do ano passado pois tínhamos apenas uns dias de namoro, na meia maratona do Rio pois ele foi acompanhar uma amiga, na maratona de Chicago porque alguém tem que trabalhar nessa relação, rs, e em uma prova de travessia aquática porque ele foi de carona e o carro estava cheio. 

Do resto, lá estava em eu todas e posso dizer que essa foi a minha preparação para o grande dia, o dia do Ironman Florianópolis. Foi como uma espécie de treino, como se eu tivesse que cumprir essa “planilha” de staff porque depois de um tempo eu sabia exatamente como era a dinâmica de uma prova de triathlon, as particularidades, os melhores momentos para acompanhar as passagens, como sai, como entra. Aprendi a fechar roupa de borracha, a passar vaselina no pescoço, a fazer check list dos itens pré prova, a gritar “vai gatinhoooooo” sem passar vergonha. Aprendi onde colocar os suplementos, a como prender número na bike na melhor posição para foto, a passar máquina nos pelos da melhor forma possível. Aprendi como despachar uma bike (com e sem mala bike), o que colocar em cada sacolinha de prova, o que comer antes, durante e depois da prova.


Mesmo sabendo (quase) tudo sobre triathlon na teoria, eu estava muito nervosa nas semanas anteriores. Tinha medo da bike quebrar ou ele sofrer um acidente, tinha medo dele travar na água, tinha medo da corrida não ser da forma como ele esperou. E foi nesse turbilhão de emoções que eu descobri que o Ironman em si é uma grande festa (ok, longa e dolorida) de confraternização. Que essas preocupações claro que existem, mas que aquela não era uma prova comum, era uma prova diferente. Tirando os atletas profissionais da elite, todos que estavam ali tinham como objetivo fazer algo extraordinário, praticamente impossível para muita gente. Tratava-se de reimaginar limites para seu corpo, para sua vida. A grande maioria dos atletas acaba tatuando o símbolo do Ironman (a letra M) para marcar para sempre a sua história e ser reconhecido e destacado entre os triatletas “comuns”.

Eu descobri que o Ironman não é simplesmente pegar uma prova de "meio Iron" e imaginar ela em dobro. Não era uma questão de esperar “um pouco” mais para o atleta chegar. Tem algo diferente no ar e isso é tão explícito que chega a arrepiar. A cidade estava cheia de competidores e suas famílias e amigos. Por onde andávamos, tinha um atleta treinando, comendo, confraternizando, sorrindo ou com cara de apreensão. No dia da prova, posso dizer que eram centenas e centenas de camisetas personalizadas, cartazes, buzinas, megafone, faixas, bumbos, cornetas... Tudo para festejar a passagem dos guerreiros e nesse momento eu também descobri que não se torce ou se vibra apenas pelo “seu” Ironman: com o passar das horas, principalmente durante a maratona, a torcida se torna coletiva, a energia toda se une e se canaliza em motivação para todos. Enquanto os treinos para um Ironman são muitas vezes solitários, tive a impressão de que naquele dia, todos os atletas fizeram a prova junto com milhares de pessoas. 


Na nossa torcida oficial estavam eu, a Heliet e o Mauriel (pais do Dani), a Jana e o bebê (irmã e sobrinho/a), o Ednilson (cunhado), o Rogério e o Henrique (cumpadre e afilhado do Dani), o Ney e a Bárbara com o fofo do Lucca, além do Chaves, Juju e Carmen (todos amigos do Dani). Durante a prova também teve a Tati e o Sérgio, o Luiz e sua esposa Alexandra (amigos de treino da Medley), o Leandro (um outro amigo do Dani) e uma torcida remota composta por dezenas de amigos que puderam mandar energias positivas antes através de um vídeo motivacional que organizei.


A largada é um capítulo a parte. Com exceção dos profissionais da elite, todos largam juntos, ao mesmo tempo. Estava acostumada com os "Troféu Brasil" da vida em que a largada é feita por categorias. No Iron, não tem essa de sexo, faixa etária... É todo mundo junto e misturado e isso significa mais de 2000 atletas entrando na água ao mesmo tempo. Minutos antes da buzina tocar, da pra sentir a tensão no ar, nos olhares daquele bando de “pinguins” paradinhos em frente àquele mar gigante: a roupa de praticamente todos é preta e as toucas são todas iguais. Encontrar o “seu” atleta é uma missão quase impossível... Não conseguimos ver o Dani dentro da área de largada, pois ele não foi até onde estávamos acampados. Depois, como eu imaginei, ele confessou que estava muito nervoso e preferiu curtir esse momento se concentrando.

Quando a buzina toca, não tem mais volta. Agora é pra valer! Alguns correm desesperadamente para o mar, outros vão caminhando devagar, nós expectadores ficamos ali parados admirando aquela cena linda. Sim, é muito lindo e nessa hora “cai a ficha” de todos... Aos poucos, começamos a nos mover lentamente para a área onde conseguiríamos vê-los pela primeira vez: mais ou menos na metade da distância da água, os atletas sairiam da água, correriam um pedaço na praia e cairiam no mar de novo. Conseguimos ver o Dani passando super bem nesse ponto. Um alívio imenso para meu coração apertadinho!


Depois nos direcionamos para a saída da água e nessa hora a aglomeração da torcida é bem maior... Dei meu jeitinho de me enfiar praticamente dentro do mar e consegui ver o Dani saindo da água, cerca de 13 minutos antes do esperado. Não dá pra descrever a alegria que senti! Estava com a Dona Heliet, minha sogra querida do meu lado e alguns amigos do Dani perto. Só conseguia gritar: ele saiu, ele saiu! A primeira parte do desafio tinha sido cumprida com louvor! Ainda tive tempo de ver a a Rafa, uma amiga guerreira, saindo da água e comemorando muito. Nesse momento eu e o namorado dela, o Vitor, nos abraçamos e choramos juntos. Foi um momento de catarse, uma emoção muito grande. Tudo aquilo que vivemos como staff, até então, estava de fato se materializando ali na nossa frente.

Nos despedimos e segui com a família e amigos do Dani para o retorno da área de bike. Nos acomodamos em um ponto muito bom onde conseguiríamos ver os atletas chegando de frente para o retorno dos 90k. Fizemos as contas do tempo, considerando a saída antecipada da água e acabamos nos separando, pois tínhamos um grupo com crianças e o restante do pessoal queria almoçar, ir ao banheiro e descansar. Eu não tinha fome alguma, rs... Estava focada em ajudar a torcida, passar as coordenadas, deixar todo mundo minimamente confortável.  Quando consegui organizar tudo, parei para comer um sanduíche com a família do Dani. Energias recarregadas, era hora de esperar nosso atleta.


Achei que seria mais fácil localizar o Dani chegando, mas velocidade e capacete são dois elementos que dificultam um pouco o reconhecimento das pessoas. Ficamos ali de plantão, sem desgrudar o olho por um segundo e íamos torcendo por todos os atletas que passavam por ali. Teve gente derrubando a garrafinha de água, muita torcida sem noção passando na frente das bikes (o que deixava o locutor bem nervoso), teve gente parando a bike para dar beijo na esposa (achei fofo mas beeeem perigoso), gente que passava sorrindo, gente que passava sofrendo. De repente, surge o “nosso” Ironman: gritamos, buzinamos, usamos o pompom e ele conseguiu nos enxergar e acenar para nós. Não aguentei a emoção de novo e comecei a chorar. Parecia que a cada hora, o sonho dele, que nesse momento também era o nosso, se tornava mais real.

Fizemos mais contas e nos dirigimos para o local da transição, onde entregariam as bikes e sairiam para a corrida. Fiquei boa em matemática porque não dava para confiar nos apps que reportam onde o atletas está, o delay é bem grande. Torcida a postos, fiquei esperando o Dani passar para entregar a bike, gritei e buzinei, e corri para chamar nosso Time Abib para se posicionar na saída da corrida. Conseguimos ver ele passando para iniciar a etapa final, a maratona e a partir daquele momento, todos estavam mais aliviados, uma vez que agora ele estava “na praia” dele, a corrida, nenhum problema técnico poderia interromper a sua chegada. E eu sabia que se uma câimbra ou lesão acontecesse, ele cruzaria a linha de chegada de qualquer forma, mesmo que se arrastando.


Naquele ponto em que estávamos, veríamos o Dani passando 4 vezes antes da linha de chegada e cada passagem foi uma grande festa da nossa torcida. Na primeira, teve a famosa pausa para meu (merecido) beijo, mas vimos que o Dani chegou ali com cara de sofrimento e estávamos mais ou menos na metade dor percurso, 21k. Meu coração apertou de novo momentaneamente e passamos a mandar todas as energias positivas do mundo para nosso guerreiro e, coincidentemente ou não, ele passou bem melhor por nós na volta dos 31k, com direito a beijo na mamãe dessa vez!


No meio tempo das voltas dele, passamos a torcer por todos os atletas que passavam. Todos! Líamos o nome nos números de identificação e era uma gritaria de incentivo só. A grande maioria correspondia ao estímulo e outros estavam muito focados para responder. Eu não vi ninguém sofrendo muito, ou se arrastando, como vemos em alguns vídeos motivacionais de Ironman. Hoje eu chego a conclusão que é porque estávamos acompanhando a prova entre os pontos de visualização baseados nos tempos do Dani, que estavam excelentes! Ou seja, as pessoas que passavam ali antes e logo depois dele estavam muito bem condicionadas e preparadas. Os que sofrem mais passaram horas depois, com certeza, pois a prova tem até 17h para ser concluída.

Assim que “nosso” Ironman passou por nós para seguir rumo aos 10k finais, ainda conseguimos ver o Nelsinho, outro amigo fera do triathlon, passar por nós e nos dirigimos para a tão esperada linha de chegada. A essa altura, eu já tinha certeza que o Dani conseguiria finalizar a prova abaixo da sua expectativa de tempo inicial, que era de 11h10. Eu sempre soube que ele foi bem conservador nessa estimativa, mas acho que ele estava certo em conter a emoção e evitar uma velada pressão para o resultado.

Quando chegamos ao local da chegada, a multidão era bem maior do que esperávamos. Tivemos que nos dividir para acompanhar a chegada do Dani. Coração a mil por hora, tinha acabado de começar a escurecer... Pelas minhas contas, ele chegaria abaixo de 10h40 de prova e ficamos contando os minutos até que vimos ele apontar no corredor que leva até a frase mais esperada de todas “you are na Ironman”. Conseguimos dar um hi-five pra ele e às 17h36m15s nosso querido Dani se transformou em um Ironman.



Para ele e a nossa torcida, essa conquista tinha um peso especial, já que ele tinha decidido se dedicar um ano exclusivamente para essa prova. Tenho certeza que ele aprendeu muito durante esse período, como ele mesmo relatou em um post do seu blog. Ver ele finalizando a prova bem, inteiro e feliz me deixou anestesiada. Eu não conseguia raciocinar muito bem naquele momento, só lembrei de chamar todos para uma foto final e para irmos ao local de onde ele sairia após pegar a medalha.

Demorou quase uma hora entre a chegada dele e a saída da tenda, mas lembrei que ele tinha dito que tentaria fazer um soro para hidratação e provavelmente iria fazer massagem e comer alguma coisa. Eu e a mamãe do Dani estávamos a postos para acompanhar a saída do nosso campeão e explodimos de alegria ao vê-lo saindo, com dores, mas bem. Nos abraçamos, nos beijamos e ainda conseguimos tirar uma foto geral na torcida no famoso M (com exceção do Juju e da Carmem que precisaram ir embora pois tinham o voo programado para a mesma noites). Depois, ainda fomos até a loja oficial da prova e compramos a jaqueta de Finisher para o Dani. Eu não conseguia muito acreditar no que os meus olhos estavam vendo, ele ai em pé, sorridente, caminhando pra lá e pra cá, mas aquilo realmente estava acontecendo.


Combinamos de jantar (sim, ele teve pique pra comemoração) e enquanto o pessoal foi para o restaurante, fiquei com ele para pegar a bike e depois seguimos para a casa para tomar banho e encontrar toda a turma. Tivemos o “nosso” momento pós prova, com muito abraço, carinho e palavras de agradecimento do Dani para mim. Todos me consideraram merecedora de uma medalha também, por toda minha dedicação durante esse um ano, mas meu maior prêmio foi vê-lo realizando seu sonho.


Quando começamos a namorar, o Iron parecia uma coisa muito distante... Até tivemos uma conversa na hora de comprar a passagem e fecharmos a casa em que nos hospedaríamos sobre como seria se não estivéssemos mais juntos, como seria. Posso dizer que esses 11 vezes voaram. Tudo foi muito intenso e passou muito rápido. Tem muita gente que acha que estamos juntos há anos, rs... E é assim mesmo que eu me sinto, como se o Dani sempre tivesse existido na minha vida.

Eu aprendi muito ao longo desse ano. Aprendi sobre paixão, compromisso, determinação, metas, dedicação. Aprendi sobre perseverança, força física, força mental, sobre superação. Aprendi a ceder, a entender melhor a rotina do outro, a fazer acordos e concessões. Fiquei (um pouquinho, rs) mais paciente. Aprendi a ouvir mais do que falar e que amor e admiração andam de mãos dadas. Aprendi que para ser um verdadeiro homem de ferro, é preciso ter um coração de ouro, e o Dani foi um príncipe. Apesar da rotina puxada de treinos, nunca me faltou carinho e respeito. É claro que tivemos que fazer algumas adaptações na rotina de um casal “normal”, mas eu acho que o saldo foi positivo. 

Tive que aprender a dormir cedo ou pelo menos lembrar de diminuir a luz do Ipad para não atrapalhar o sono alheio e tive que aprender a voltar a dormir depois que o despertador toca de madrugada. Passei a ir ao cinema em sessões da tarde e a valorizar um day off (dias sem treino na planilha) como ninguém! Abrimos mão de alguns compromissos sociais sim, mas conseguimos encaixar festas, casamentos, aniversários, batizados, encontros de família, de amigos, viagens. Sei que nesse um ano acabei priorizando a companhia dele porque o tempo disponível para nós se restringiu a algumas horas na sexta, sábado e domingo, intercalando o dia com treinamentos ou provas. Sei que os amigos de verdade entenderam os nossos momentos, mas deixo aqui o meu muito obrigada a todos que não só entenderam, mas torceram junto comigo.

Tenho que agradecer também ao Time Abib que esteve reunido em Floripa para a prova. Entraram na minha bagunça, compraram a ideia das camisetas e parafernalhas de torcida, curtiram comigo, torceram muito pelo nosso Dani e estavam todos muito orgulhosos não só em vê-lo terminando a prova, mas também pelo seu excelente tempo!

Por fim, deixo aqui registrado o meu agradecimento ao melhor namorado do mundo, o meu Dani, meu Gatinho, meu Príncipe, meu Ironman que me acomodou de forma tão especial em sua rotina. Que sempre fez tudo o que pode para ficarmos juntos, dentro de uma ”normalidade”. Que encontrou tempo pra treinar comigo, pra estar comigo sempre que possível. Que me ensinou muitas lições de vida. Ele é meu parceiro, meu companheiro, meu amigo, meu amor. Espero ter sido a companheira que ele merece ter pelo homem incrível que ele é. Muita gente nessa rotina toda diz que eu fui uma namorada perfeita... Sei que fiz muita coisa bacana, mas também tive meus momentos de mimimi ao longo desse processo todo. Poucos, confesso, mas tive. Eu ainda não fiz um Ironman e por isso me dou ao luxo de não ser de ferro, rs. O importante é que eu aprendi que um sonho sonhado em conjunto tem o poder de transformar a vida de muitas pessoas.




Muita gente agora me pergunta se eu estou pronta para a próxima, porque ele eu sei que está, mas isso é assunto para ser tratado primeiramente no mundo off-line. :-) Confesso que tenho sentimentos bipolares nesse momento, acho que a depressão “pós Iron” também atinge os companheiros de jornada. Por hora, posso dizer que tudo o que vivi valeu muito a pena... Foi como eu disse no começo dessse post: nada mudou e, ao mesmo tempo, tudo!

- Eu te amo, Daniel Cintra Abib! -

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Esse foi o meu lado da história.,, O relato do Dani pode ser encontrado no blog Meu Primeiro Ironman.

domingo, 12 de abril de 2015

Ironman 70.3 Brasília - A visão do lado de cá da prova

Já faz um tempo que venho querendo relatar o outro lado da versão de quem acompanha as provas de triathlon. Já li alguns relatos de esposas, namoradas e amigas de triatletas e confesso que tudo que li até hoje sempre me pareceu muito feminista, esquisito, triste e/ou sarcástico. Sei que ainda sou "novata" na função que carinhosamente chamo de "staff" e não sei se depois de viver anos e anos nesse trampo (sim, no fundo é um trampo...) eu escreveria igual a esses relatos que mencionei... Sendo assim, deixarei aqui registrada a minha visão do lado de cá de uma prova de triathlon e quem sabe um dia eu releia e faça algumas alterações, rs...

Acho que não é novidade pra ninguém que eu namoro o Dani, um triatleta (lindo <3) que está em um ano sabático, se dedicando de corpo, alma e coração aos treinamento para o Ironman que acontecerá dia 31 de Maio em Florianópolis. Até lá, todas as provas são grandes check points de seu desempenho e fazem parte do plano de treinamentos para o "grande dia". Já acompanhei algumas provas de triathlon da modalidade Olímpica em Santos e uma prova chamada Challenge que aconteceu também em Florianópolis em Novembro de 2014 e que corresponde a mesma distância de um Ironman 70.3 - ou "meio Ironman" (1.9k de natação / 90k de bike / 21k de corrida). Essa é uma prova que não é tão conhecida como o Ironman (que é uma marca registrada) e, por isso, não tem todo o glamour e repercussão. O número de atletas também é menor... 

No dia 5 de Abril, aconteceu a grande última prova que servirá de avaliação nessa loucura, ops, sonho do meu Gatinho: o Ironman 70.3 em Brasília. Apesar de ser a mesma distância do Challenge, agora tinha a pompa que a marca  famosa agrega.

Sexta Feira - 3 de Abril - Embarque de Sampa para Brasília

Embarcamos na Sexta Feira, 3 de Abril e o aeroporto estava cheio de bikes. Foi engraçado demais! Nesse momento, senti a primeira tensão do final de semana: o Dani tinha levado a bike dele protegida, mas fora de uma mala específica para transporte. E se caísse? E se quebrasse? E se sumisse? E se... Achei melhor engolir a preocupação para não deixa-lo (mais) nervoso. O jeito era torcer para dar tudo certo... E deu! Chegamos em Brasília e nesse momento vimos que vários atletas despacharam a bike do mesmo jeito. De qualquer forma, lição aprendida: só mala-bike daqui pra frente!


Embarque para Brasília

Depois do check in feito, almoçamos num shopping perto do hotel e nesse mesmo dia fomos visitar a Exposição e retirar o Kit. Achei bem organizado e tranquilo. Lá, um painel enorme com os nomes de todos os inscritos virou point para muitas fotos com olhares e sorrisos orgulhosos. Nessa hora, foi muito engraçado ver as namoradas / esposas / companheiras: tinham as extremamente atletas também (que faziam eu me sentir um peixe bem fora d'água), paramentadas de tênis de corrida, bermuda de compressão e Garmin no pulso e as "gente como a gente", de short jeans e blusinha branca (meu uniforme em provas), muitas vezes com bebês fofos a tiracolo. Quando eles crescerem, sentirão muito orgulho do papai com certeza!


Nós e o famoso M Dot

(Alô, alô meninas solteiras de plantão!!! Indico que comecem a frequentar provas de Triathlon para fazer uma prospecção, viu? Espero que meu Gatinho não leia isso, mas a quantidade de homens bonitos/gostosos por CENTÍMETRO quadrado é impressionante. Misericórdia! Hahahahaha! Eu reclamo mas to aqui incentivando a paquera das Maria Macaquinho, rs...)

Kit na mão, fomos visitar um amigo do Dani que mora em Brasília. Depois, era hora de voltar para o hotel, descansar um pouco e depois partir para jantar com os amigos do Dani em um restaurante de massas. Aliás, esse é o cardápio único e exclusivo de um final de semana de prova: carbo, carbo e carbo, para o terror de quem, como eu, não gastaria mais de 3.000 calorias dias depois. Sendo assim, o jeito foi tentar não entrar na onda e intercalar as refeições de carbo com saladinhas... O restaurante era muito gostoso e os amigos do triathlon que o Dani fez são muito unidos e legais. Todos se apoiam, brincam, se divertem e fazem muita força juntos. Dia tranquilo finalizado, era hora de dormir (cedo, sempre cedo...) para descansar.




Kit na mão e jantar delícia!


Como diz o pessoal da Run & Fun: #povolindo



Cantina da Massa

Sábado - 4 de Abril 

Hora de acordar e ir para a Exposição assistir ao Simpósio Técnico da prova. O Dani queria chegar cedo e ver o primeiro simpósio (teriam dois horários) e lá estávamos nós perto das 9h, De novidade, foi anunciado que agora teria anti-doping para os atletas amadores. O pessoal deve ter gostado porque nessa hora rolou um aplauso em massa...


Nós no simpósio técnico


O pessoal compareceu em peso 

Os amigos do Dani chegaram para assistir o simpósio das 10h. Como nós já tínhamos visto, era hora de voltar para o hotel. Certo? Errado! :-) O Dani quis ficar para assistir de novo porque todos combinaram uma foto da galera depois. Eu sai de lá com todas as regras decoradas, mas valeu a pena esperar. A foto ficou muito legal! Acho bem bacana essa união que eles tem. O esporte trouxe muitos amigos para o Dani e, de quebra, pessoas muito legais para eu conviver também.


Time Run & Fun

Sábado depois do almoço (de massa, para o Dani, rs) voltamos ao local da exposição (sim, você fica indo e voltando para o lugar de exposição o final de semana todo... turismo mesmo, foi de dentro do carro... eu até que queria dar umas voltinhas, conhecer a cidade, mas o Dani não estava muito no clima não... espero que o dia que o acompanhar em uma prova em Miami seja diferente, hehehehe) porque era dia de fazer o bike check in: momento de largar a magrela e os apetrechos para a prova no local de transição.


Por incrível que pareça, ainda sobra lugar pra mim na cama...


Sacolinhas pra organizar a transição


Eu e as tralhas! :-P

(Pausa para os apetrechos... Tem MUITA tralha que precisa ser levada para uma prova dessas. Muita... E mesmo com uma listinha do que não pode ser esquecido, sempre tem o risco do esquecimento... Tem gel, pozinho, frequencímetro, capacete, treco pra encher pneu, espuma não sei do que, viseira, roupa de borracha, líquido pra desembaçar óculos, caramanholas... Uma lista quase infinita de coisinhas, cada qual com sua função.)

Nessa hora, os acompanhantes não podiam entrar na área destinada a transição. O jeito foi esperar na feirinha da exposição e dar uma voltinha no local que era muito bonito e gostoso. Depois que eles deixam a Bike e as tralhas, lá vão os futuros "meio Iornman" fazer a tatuagem com o número da prova (também chamado de BIB). É incrível: eles saem dessa marcação parecendo pombos de tão estufado que o peito fica. Ao colocarem os números, parecem que ganham uma dose extra de energia de auto estima e até o andar dos atletas fica diferente. Todos repetem as mesmas fotos nos mesmos lugares do dia anterior, porém agora com a blusa da camiseta arregaçada. Muito cômico observar essas mudanças...


Meu "meio" Ironman tatuado


Já morta de orgulho do meu Gatinho


Momento fofura <3


Minha aquisição para a prova!

Saindo de lá, paramos no mercado para comprar coisinhas pro café da manhã e depois fomos para o hotel. Como precisávamos sair (muito) cedo no dia seguinte, teríamos que fazer o nosso próprio café... Abri um vinhozinho pra relaxar (porque não sou uma mulher de ferro) e ficamos lá repassando os detalhes para o dia seguinte. Chegou um determinado momento que o Dani ficou mudo... Compenetrado... Me enchendo de cafuné e carinho, mas sem falar uma palavra... Iniciou uma concentração para a prova que só terminaria no dia seguinte, depois de cruzar a linha de chegada. Como já conheço meu Gatinho, respeitei seu silêncio e fiquei me distraindo de outras formas.

Horas depois, despertador programado para às 4h, Ipad com iluminação baixa para não atrapalhar o sono do Gatinho, tacinha no criado mudo e às 21h e meu amado já estava me dando boa noite... Logo menos tratei de dormir também para não parecer um zumbi no dia seguinte.

Domingo - 5 de Abril - o grande dia!

O Dani pulou da cama direto como sempre. Eu fiz uma preguicinha de leve pois estava bem sonolenta... Mas o medo de perder a hora e atrasa-lo é sempre enorme... Tratei de engatar a primeira e pular da cama junto. Vesti minha roupinha, engoli um lanche e partimos para o local da prova.

(Fui com a minha camiseta tiete porque queria que todos soubessem do meu orgulho por estar ali com ele naquele momento)


Eu <3 my triathlete

Chegamos no local da prova TÃO cedo que o segurança não entendeu o que fazíamos ali aquele horário. Posso jurar que fomos os primeiros a chegar! Enrolamos um pouquinho no carro e na saída já encontramos alguns amigos do Dani. Todos estavam com rostos muito apreensivos... Para a grande maioria, não seria a primeira vez que fariam essa prova ou essa distância, mas nesse momento todos viraram "virgens" de novo. Conversando com a Poly, esposa do Luiz, nos divertimos comentando como as "staffs" precisam agir em dias de pré e prova:

1) Temos que escolher as palavras certas para não gerar mais tensão
2) Nosso papel é apoiar, e isso às vezes significa apenas não atrapalhar
3) A frase mais dita em dias pré e de prova é: Claro amor, como você quiser... Você escolhe...
4) Temos que entender mudanças repentinas de vontades e humor e fingir demência


Madrugando... ZZZzzzZZzz

Faz parte... E fazemos tudo isso com muito humor e amor. Não tem preço ver a pessoa que você ama se realizando.

Nessa hora, montamos o nosso grupinho de "staff" que ficaria junto até o final da prova: Cássio (o treinador do pessoal), Poly, Eu e Carlão.


Staff


Vai encarar?


Aos poucos, o local da prova ia enchendo... Roupa de borracha colocada, fomos todos para o pier da largada da natação. Fiquei com eles lá até bem próximo do momento da largada, tentando dar carinho e falando palavras de incentivo para o Dani. Sei o quanto para ele a natação é desafiadora e eu fico muito apreensiva quando ele cai na água (só sossego mesmo quando sai da bike, mas isso é assunto para alguns parágrafos a frente, rs)... Ao sair da área da largada, reparei em quanta gente estava ali acompanhando a prova: pais, mães, filhos, filhas, esposas, maridos, amigos, familiares. TODOS muito felizes e emocionados. O clima nesse momento é de arrepiar...


Dani, pronto pra nadar! #sqn

A largada - Natação

Diferentemente de todas as provas que assisti, a largada do 70.3 de Brasília se deu com os atletas já dentro da água. Me posicionei de um lugar que conseguisse enxergar um pouquinho e ao longe, ouvi o barulho da buzina. Com os olhos cheios de água e o coração acelerado, agora era só rezar e torcer para que a natação fosse tranquila e que nenhum tronco aparecesse pra afundar o Dani.... Rs...


A largada

O mar de gente nadando é uma cena muito linda de se ver. Ficamos ali, sem reconhecer ninguém, mas admirando todos. Aos pouquinhos, pequenas "filas" de nadadores iam de formando em pequenos pelotões. Fomos até um local onde conseguiríamos ver os atletas passando ao sair da água. Fiz as conta de quanto tempo o Dani levaria para sair e... Nada. Um, dois, três minutos depois e... Nada.


No lago, um mar de gente...

Passaram muitos amigos da Run & Fun e nada dele. Tentava disfarçar meu nervosismo mas meu coração estava apertado: alguma coisa tinha acontecido. Detalhe: ele passou 5 minutos depois do que estava prevendo, mas esses 5 minutos pareceram uma eternidade. Acho engraçado porque eu sempre vi imagens de provas de triathlon e me perguntava como que as pessoas reconheciam os atletas que ficam todos iguais nessa hora e hoje eu enxergo o meu Gatinho bem de longe!

Cerca de 40 min depois, ele saiu da água... Haja coração...

(Depois ele me contou que precisou parar uns 3 minutos para respirar porque estava se sentindo um pouco mal com a roupa e o calor da água... Que bom que ele desistiu de desistir da prova!)

A bike

Bom... Saiu da água, tá vivo, coração descansa... Só que não. Eu só fico tranquila mesmo quando ele sai pra correr porque sei que ai não existe mais nenhum perigo "real". Se na natação o atleta pode afogar, na bike ele pode, de fato, sofrer um grave acidente. Obviamente, a velocidade média de uma prova é beeeeeem diferente daquele passeio que a maioria das pessoas está acostumada a dar no parque. Existem picos de mais de 50km/h! Um descuido e o estrago pode ser grande... Então... Lá vamos nós sofrer por mais algumas horas...

Eu e o staff fomos para o local onde os atletas iam fazer uma curva acentuada e, consequentemente, poderiam passar um pouco mais devagar do que o normal. Hahahaha. Ilusão a nossa. Pelo menos o Dani e os amigos dele passaram por ali voando!


Ainda consegui ganhar um beijinho! <3

Nos posicionamos estrategicamente em um ponto que conseguiríamos reconhecer eles do outro lado da Rodovia e daria tempo de acompanhar a subida na curva. Essa hora foi muito bacana: estávamos na frente de uma super atleta especializada em ultra maratonas, que tinha um mega fone e ficava incentivando e brincando com o pessoal. Gritava várias vezes que "se pegasse vácuo, Deus tava vendo!". Foi muito bacana também o companheirismo da Poly, Carlão e Cássio: todos estávamos de olho em todos os atletas da Run & Fun e nos avisávamos quando um passaria. Foi assim em todo o trajeto da bike e depois da corrida.


Staff unido

A essa altura da manhã, o Sol já judiava de todos e o calor estava forte. Depois de quase 3 horas suando e me entupindo de protetor solar, consegui ver o Dani passar duas vezes por esse local, constatei que estava vivo e sem machucados (não caiu, ufa...) depois ganhei beijos e tchauzinho e já era hora de voltar para o local de transição e acompanhar a saída para a corrida.

A corrida

Nos posicionamos bem na saída da transição. De lá, conseguíamos ver o pessoal chegando da bike e depois saindo para correr... Vimos o Luiz, marido da Poly e amigo do Dani sair
da corrida e, alguns minutinhos depois, foi a vez do Dani.

Ao vê-lo se aproximar, notei que ele estava sem viseira. Foi o tempo de comentar com o Carlão "será que ele vai querer a minha viseira" que o danadinho passou por mim, voltou e carinhosamente arrancou a minha viseira da cabeça... Achei que fosse pelo menos ganhar um beijinho (no Challenge, nesse exato momento, ganhei uma bitoca), fiz biquinho e... Fiquei no vácuo. Hahahaha. Dei risada com o Carlão e me preparei para mais quase 2h queimando o coco e agora sem viseira. De qualquer forma, antes eu do que ele... Sendo assim, taca-lhe pau no protetor solar!!!


Dani vindo ao fundo... Sem viseira...


 Dani correndo... Com viseira! :-P

Após o episódio da viseira, fomos para um local onde conseguiríamos ver o pessoal passando pelo menos mais duas vezes. Na hora da corrida, muita gente sofrendo, trotando leve, com muita câimbra. Dava pra ver no rosto de cada um o sofrimento e a vontade de terminar aquela prova. Íamos incentivando a todos que precisavam. Nessa hora, toda torcida é válida e todos ali já são campeões. Os termômetros marcavam 30 graus e o tempo estava muito seco.

Na primeira volta do Dani, acho que a dor na consciência pesou e ele parou 1 segundo para a minha famosa bitoca, rs. Vi que meu Gatinho estava cansado mas estava "inteiro" e isso era um bom sinal. Nas últimas provas, a corrida foi um momento bem chato para ele pois não conseguiu dar tudo de si e os resultados não foram os melhores...

Depois da segunda passagem ele, eu e o Carlão esperamos a Kami (amiga de treinos) passar e nos dirigimos para a chegada. Encontramos a Poly e seguimos juntos... Com a chuva. Sim, para aliviar um pouco, São Pedro mandou um leve pé d'água para esfriar os atletas e molhar (bastante) todos os acompanhantes.

Quando cheguei perto do pórtico, fiquei de olho no relógio. Quando vi que ele marcava 4h50 de prova, mais um pulo no coração e um nó no estômago: o Dani tinha como objetivo terminar essa prova com um tempo abaixo de 5h e dali por diante, todo minuto seria importante. O Luiz passou com quase 4h54 e eu sabia que o Dani estava, pelo menos uns 4 minutos atrás dele. Depois de respirar fundo, vi ele vindo ao fundo. Aquela olhadinha básica para o relógio e percebi que não tinha mais como não atingir a meta... E com 4h56 de prova, ele cruzou a linha de chegada.



Agora é só comemorar


Vai, Gatinho!!!


Considerações finais

A prova foi muito bem organizada... Brasília estava "cheirando" esportes: por onde você andava, via um atleta com uma pulseirinha de participante da prova na mão. Achei muito legal poder saber de longe "quem era quem"...

Não adianta explicar: para quem minimamente gosta de esportes e / ou tem alguém ali pra enfrentar um desafio desses, a emoção é à flor da pele. Me peguei várias vezes com os olhos marejados e os pelinhos do corpo arrepiados... Algumas pessoas me falam: você pode pegar um sol e passear enquanto ele faz uma prova dessas. Oi? Impossível desgrudar o olho da prova. Não só para procurar o Dani, mas também procurar seus amigos, ver o olhar das pessoas, a superação de cada um, torcer junto por quem você nem conhece...  Qualquer prova de triathlon por si só já é emocionante... Mas essa prova foi bem especial.

Cansa? Sim, cansa... São horas em pé embaixo de sol, chuva, vento, anda pra lá, anda pra cá, leva mochila...  Fica tensa na água, fica tensa na bike e relativamente relaxa na corrida, mas sempre olhando pro relógio. E uma prova dessas começa muito antes, com treinos, alimentação e descanso. Dois dias antes, o assunto é só prova, prova, prova, kit, bike, número, trajeto, revisão de regras, prova, prova e mais prova. Você até tenta puxar um assunto diferente, mas não rola. Na noite anterior, não tem assunto de prova, mas tem silêncio de concentração.

Para muitas pessoas, isso pode parecer uma tortura, mas para mim não. Não canso de dizer que amo acompanhar meu Gatinho e isso é muito verdade... Só eu sei o orgulho e a felicidade que eu sinto em poder compartilhar momentos assim com ele.

Eu cresci sabendo que o que eu mais queria era um companheiro de vida, não só alguém pra chamar de namorado. Sempre quis uma pessoa que estivesse ao meu lado para o que der e vier e que me fizesse bem. Que eu me sentisse uma pessoa melhor quando essa pessoa estivesse ao meu lado do que quando eu estivesse sozinha. Hoje, tenho certeza que tenho comigo uma pessoa que é muito mais do que eu sempre pedi.

Gatinho, não tem sol, chuva, vento, suor, cansaço ou qualquer outra coisa que seja maior do que a vontade de te ver sorrindo e me abraçando depois da linha de chegada. E eu estarei com você em todas que você desejar cruzar. Te amo!


<3

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Eu. Você. Nós.



Eu, vinho.

Você, Coca Zero.

Nós, suco de laranja.


Eu, 23h.

Você, 21h.

Nós, 22h.


Eu, grilo falante.

Você, silêncio.

Nós, respeito.


Eu, sorriso.

Você, olhar.

Nós, risadas.


Eu, Pangaré.

Você, Puro Sangue.

Nós, companheiros.


Eu, ponta dos pés.

Você, costas curvadas.

Nós, encaixe perfeito.


Eu, só mais 5 minutinhos.

Você, de pé no primeiro toque.

Nós, café da manhã na cama.


Eu, fogão.

Você, pia.

Nós, parceiros.


Eu, pimenta.

Você, sal.

Nós, azeite.


Eu, beijo.

Você, cafuné.

Nós, carinho.


Eu, memória.

Você, check list.

Nós, falhas humanas.


Eu, reunião.

Você, ano sabático.

Nós, orgulho.


Eu, Morumbi.

Você, Vila Mariana.

Nós, USP.


Eu, Discovery.

Você, Globo News.

Nós, filme com pipoca.


Eu, cabeça dura.

Você, também.

Nós, aprendizado.


As pessoas buscam com muita insistência a alma gêmea, a tampa da panela, a metade da laranja, alguém igualzinho, um espelho. 

Eu sou completa, sem pedaço faltante para ser preenchido por ninguém. A responsabilidade de ser inteira é só minha. Só que eu tenho a sorte de ter ao meu lado alguém que me complementa, me equilibra e desperta o melhor de mim. E tudo fica muito mais leve, feliz e divertido.

Gatinho, meu desejo é que seja sempre assim e que eu continue encontrando motivos todos os dias para pensar em você, sorrir e me apaixonar de novo. E de novo. E de novo!

terça-feira, 7 de outubro de 2014

50 razões pelas quais eu sou apaixonada por você



Em todos os sites elas estão aos montes: como perder peso em 10 passos, como conquistar aquela mulher linda em 22 lições, 17 maneiras de driblar o colega chato do trabalho, como ser feliz com 37 atitudes diferentes, as 100 melhores empresas para você trabalhar. As listas, definitivamente, se tornaram parte do nosso dia a dia. Temos a lista das nossas músicas preferidas, conseguimos listar nossas tarefas do dia a dia, podemos listar os filmes que desejamos assistir e sentar para fazer uma listinha com os lugares que queremos conhecer ou coisas que queremos fazer até o final da vida é muito prazeroso.

Pois bem. Essa noite eu sonhei que viajava para Londres com o Dani e eu tinha na mão uma listinha com as coisas que eu gostaria de fazer com ele lá. Não consigo me lembrar exatamente tudo o que estava escrito no nosso "to do" Londrino, mas acordei feliz e, claro, com aquele sorriso bobo de quem gostou do sonho e não queria acordar. Sai de casa apressada pro causa do rodízio mas com ele no meu pensamento. Pensei que, diferentemente de como costumo fazer, nunca tinha parado para "listar" nada relacionado a ele, rs. Tudo tem acontecido de forma natural e tranquila, assim como sempre deveria ser, né?

Vim dirigindo e lembrando da forma maluca que nos conhecemos, em como somos pessoas de sorte por termos nos encontrado nesse mundo cheio de pessoas esquisitas. Pensei em como minha vida estava diferente há uns meses e em como ele me faz bem hoje. Ai lembrei que essa é uma semana muito importante na vida dele pois Domingo estará correndo a sua primeira maratona em Chicago. Um grande marco para todo atleta amador. Imagino a mistura de sentimentos que deve estar borbulhando dentro da sua cabeça... Senti uma alegria imensa e fiquei feliz por estar ao seu lado nesse momento.

Comecei a pensar em como eu, com todos os meus escudos e capas, me tornei uma pessoa apaixonada, boboca e meio brega da noite para o dia. Como isso seria possível? Foi ai que, meio que sem querer, comecei mentalmente a listar os motivos e resolvi deixar aqui registradas as 50 razões pelas quais eu sou apaixonada por ele!

  1. Você me olha como se eu fosse a Gisele Bündchen
  2. Você é o motivo dos meus sorrisos, todos os dias
  3. Você tem um beijo que tira meu fôlego
  4. Você sorri e seus olhos ficam lindos e pequenininhos
  5. Você tem o abraço mais anatômico do mundo
  6. Você faz comida para mim, mesmo dizendo que não sabe cozinhar
  7. Você diz que aprendeu a comer couve comigo
  8. Você faz com que ao seu lado seja sempre o melhor lugar para eu estar
  9. Você começou a esquentar o pãozinho com azeite na chapa
  10. Você lava a louça. Você lava a louça. Você lava a louça...
  11. Você arruma todas as coisas que possuem botão e fio para mim
  12. Você levanta mais cedo e me serve café da manhã na cama
  13. Você fica extremamente sexy com todas as suas “fantasias” de atleta
  14. Você faz cafuné até eu dormir
  15. Você é meu parceiro e deixa eu ser sua parceira
  16. Você tem uma barba cerrada linda que cresce em menos de 12h
  17. Você compra docinhos quando eu estou triste
  18. Você faz café de coador para mim, mesmo sem tomar café
  19. Você tem o peito com altura exata para que eu deite e fique confortável
  20. Você pra mim é um exemplo de determinação e disciplina
  21. Você me faz querer ser a namorada mais doce e carinhosa do mundo
  22. Você às vezes pode até me irritar mas nunca me tira do sério
  23. Você me faz gargalhar
  24. Você cozinha milho e tira da espiga pra eu comer no pratinho
  25. Você fez com que eu sentisse “frio na barriga” de novo
  26. Você faz com que uma ida ao mercado seja divertida
  27. Você me incentiva a ser uma “puro sangue” mesmo eu sendo uma “pangaré”
  28. Você faz com que eu olhe para a tela do celular e fique com cara de boboca
  29. Você treina comigo mesmo que para você seja uma simples marcha atlética
  30. Você rouba meu lado da cama mas me encolher por você não é sacrifício nenhum
  31. Você faz com que as Segundas, Terça e Quartas pareçam abismos até chegar Quinta à noite
  32. Você sempre anda de mãos dadas
  33. Você é extremamente carinhoso e delicado comigo
  34. Você faz com que eu me sinta segura, linda e querida
  35. Você enche minhas gatas de carinho, mesmo sem gostar de gatos
  36. Você acha que sou uma princesa e me trata como tal
  37. Você faz com que o tempo ao seu lado voe
  38. Você faz questão de ser simpático com meus amigos
  39. Você ama bebês e crianças
  40. Você é alto, magro, cheiroso e lindo
  41. Você faz planos comigo para o final de semana que vem, para o mês que vem, para o ano que vem
  42. Você é educado, íntegro e inteligente
  43. Você faz com que eu seja a namorada mais orgulhosa do mundo
  44. Você é divertido, engraçado e está sempre de bom humor
  45. Você valoriza e respeita sua família
  46. Você fica acordado até mais tarde pra conversarmos, mesmo caindo de sono e fechando os olhinhos sem querer
  47. Você se encaixa na conchinha comigo como ninguém
  48. Você adapta a sua rotina sempre que pode para podermos ficar mais um tempinho juntos
  49. Você tem o poder de fazer eu gostar mais de você a cada dia que passa
  50. Você faz com que eu queira fazer uma lista das 50 razões pelas quais eu sou apaixonada por você 
Obrigada por essas e tantas outras, gatinho! <3




segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Tudo não terás



Tudo não terás.

Esse tem sido meu mantra já faz um certo tempo para tudo na minha vida. Já tento viver essa filosofia sem expressar especificamente essa frase, dita pela Cristina que trabalha aqui no Aché comigo. Aliás, nossos cafés de descontração costumam render boas histórias e boas risadas. Tudo não terás. Nunca. E é bom a gente ir se acostumando com isso.

Desde que me conheço por gente, eu quero sempre mais (e isso não tem nada a ver com a música do Ira, meu povo). Quando eu era criança, ir ao Playcenter era “O” programa da vida, praticamente uma viagem para a Disney. Os pais que conseguiam proporcionar isso para seus filhos, se sentiam orgulhosos e com a sensação de dever cumprido: a criançada ia ficar feliz por um mês seguido, sem reclamar. Será? Não a pequena Amanda, que vez ou outra saía chorando porque após ter brincado em todos os brinquedos (que a altura mínima permitia, lógico), não ganhou o algodão doce no final do dia. Não achem que isso é culpa de muito mimo da minha mãe não, pelo contrário. Naquela época, ela já me dizia de outra forma “tudo não terás” e muitas vezes essa frase vinha em forma de um belo tapa no bumbum pra acabar com a graça e me colocar no meu devido lugar.

Na idade adulta, tive um Diretor muito exigente. Muito mesmo. Eu nunca poderia entrar na sala dele sem uma resposta pensada para meus problemas. Eu sempre precisava fazer melhor e diferente do que a média. Foi ele que fez com que a minha régua profissional fosse sempre mais alta do que o normal... Eu era exigida como Coordenadora, mesmo sendo Analista. E depois como Gerente, mesmo sendo Coordenadora. E depois, finalmente Gerente, eu era cobrada pra me diferenciar, a entregar mais do que o esperado sempre. Com isso, perdi algumas noites de sono, ganhei dores de estômago e enxaqueca. Estava sempre me cobrando e isso não é uma reclamação de forma alguma. Cresci muito, aprendi muito com tudo isso. Inclusive a reforçar a teoria de que: “Chefe, tudo não terás”. Não dá pra ser tudo ao mesmo tempo agora. Não dá!

Ultimamente, é nos meus relacionamentos pessoais que tento aplicar essa máxima. Tento entender que não dá pra exigir dos outros reações e atitudes que eu teria frente a determinadas situações. Talvez ai esteja a chave para evitarmos frustrações e cobranças desnecessárias. É um exercício diário e por vezes, doloroso porque exige de nós muita tolerância e pensar mais do que falar e agir no impulso.


Exige conter a língua afiada e serenidade para não surtar quando as coisas não saem da forma como esperamos. Às vezes, fazemos as coisas esperando no fundo uma recompensa, mesmo que inconsciente, da outra parte. “Aquele dia, em Novembro do ano passado, eu fiz isso e aquilo por você e agora você não faz por mim”. Sim, não faz, porque as com certeza não enxergaram que estariam em dívida com você ao aceitar sua ajuda.

Aplicar o “tudo não terás” significa aceitar que não existe perfeição. Não existe pacote 100% completo. Ninguém aqui está dizendo para aceitar qualquer marmita por falta de um belo prato principal, mas sim entender que nem todo mundo gosta de couvert, sobremesa e café. É entender o silêncio do outro e o desejo de se expressar somente depois de um tempo, mesmo que você queira falar agora. É entender que o relógio de vida de cada um gira de forma diferente e que o importante é encontrar um que esteja no mesmo ritmo que o seu, mesmo que analógico enquanto você se orgulha de ser digital. É aceitar as escolhas do outro, mesmo que diferente das suas e entender que as pessoas precisam se complementar, somar e elas não precisam ser sempre espelhos dos nossos desejos.

Canso de ouvir de amigas e conhecidas que fulano é ótimo, mas.... Ciclano é legal, mas... Beltrano é incrível, mas... Mas o que? A gente tem sempre algo pra reclamar, né? Às vezes ficamos comparando as pessoas e não conseguimos ser felizes nunca porque a pessoa perfeita só existe na nossa imaginação. Pensamos que pessoas podem ser comparadas a colchas de retalhos e seguimos tentando costurar os pedaços que achamos interessantes para formar o “patchwork ideal”. Aplicar o “tudo não terás”, é entender que às vezes o que você precisa é mesmo de um edredom novinho, sem marca nenhuma, prontinho pra ganhar forma e cheiro com você.

Sabendo que tudo não teremos, cabe a nós então fazer boas escolhas. Cada um sabe, no fundo, do que pode abrir mão e o que é indiscutível, sem negociação. Estamos a todos os momentos fazendo essas escolhas, direta e indiretamente, em todos os âmbitos da nossa vida, e temos que arcar com as consequências de cada uma delas. Elas geralmente incluem renúncias e cada uma tem um preço a ser pago, inclusive quando escolhemos não escolher nada. Se não conseguimos definir ao certo o que queremos o desapontamento com as nossas escolhas feitas tende a ser maior.

Aprender a escolher o suficientemente bom ao invés de brigar eternamente pela excelência pode ser uma boa estratégia. Isso não é ser conformista, mas sim realista. Eu pelo menos já aprendi, desde a libertação da “Capa da Mulher Maravilha”, que a perfeição é só para os super-heróis de desenhos animados mesmo (aliás, obrigada Dani, meu namorado querido, que me relembra praticamente todos os dias que eu posso e mereço ser bem cuidada: isso tem sido um belo de um aprendizado, mas fica de tema para um próximo post).

No final das contas, não interessam os resultados objetivos, mas sim os subjetivos: como vamos nos sentir em relação às escolhas que fizermos. E eu pretendo dormir sempre tranquila, repetindo diariamente o mantra à exaustão: “tudo não terás, tudo não terás, tudo não terás... mas ainda assim, conseguirás ser feliz”.